quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Intestino, o nosso segundo cérebro





“É do estômago que vem a doença, por isso o jejum é o melhor remédio. Jejues e curar-te-ás.” Profeta Maomé. 

    É...ele estava quase certo...realmente grande parte das doenças surgem mesmo de um desequilíbrio ou mal funcionamento do nosso trato gastrointestinal mais especificamente, do nosso INTESTINO. Mas não é necessário um jejum completo para curar, e sim algumas correções na alimentação, mas isso vamos ver mais adiante.

    Dizemos que o intestino é o nosso segundo cérebro, devido a ele ser o único órgão que possui um sistema nervoso próprio, chamado de ENTÉRICO. Graças a esse sistema, o intestino é capaz de mediar reflexos na total ausência do cérebro ou da medula espinhal e pasmem: Os mesmos neurotransmissores que encontramos no no cérebro e na medula espinhal, encontramos no intestino!

    A mucosa que reveste o nosso intestino é como uma “barreira” entre o interior do nosso corpo e os agentes externos provenientes do meio ambiente, como bactérias e até mesmo alimentos mal digeridos. Dada a sua importante função, sua integridade é fundamental para nossa saúde, isso significa que quando esta barreira não está em ordem a permeabilidade intestinal é alterada permitindo passagem de macromoléculas (moléculas grandes) que ao entrarem na corrente sanguínea, dependendo dos “gatilhos genéticos” de cada um podem iniciar problemas de saúde, a isso chamamos de HIPERSENSIBILIDADE ALIMENTAR. Isso tudo porque cerca de 20% das células do nosso intestino não são células intestinais (enterócitos) e sim células do SISTEMA IMUNE (linfócitos) e 60% dos nossos anticorpos são produzidos no nosso intestino, isso explica o porque de tantas alergias e sensibilidades alimentares. Além de tudo, no intestino temo algo que digo ser praticamente um determinante da nossa saúde ou da nossa doença: as bactérias intestinais, que chamamos de MICROBIÓTA

    A nossa microbióta, ou flora intestinal, como também é conhecida, é formada por cerca de 2000 espécies de bactérias diferentes, protozoários, fungos e vírus que vivem harmonicamente dentro do nosso organismo, contribuindo e muito para nossa saúde, no entanto, já podemos imaginar o que acontece quando esse equilíbrio é interrompido não é mesmo? Quando temos um desequilíbrio da flora intestinal, que chamamos de DISBIOSE INTESTINAL, causada por uma alimentação pobre em nutrientes e pelo o estresse por exemplo, bactérias que não são benéficas ao nosso organismo começam a se proliferar e ganhar espaço no nosso intestino, causando uma série de malefícios a nossa saúde, inclusive a o ganho de peso, a resistência a insulina e a longo prazo, a obesidade, pois as bactérias maléficas tem a capacidade de extraírem mais energia a partir do consumo alimentar. Outros problemas comuns são a constipação ou diarreia crônica, a má absorção de nutrientes, além da hipersensibilidade alimentar, que é como uma “alergia escondida” que muitas vezes só vai manifestar os sintomas três a quatro dias depois que ingerimos determinados alimentos, o que muitas vezes dificulta a associação do sintoma ao alimento causador. Observando com anda ruim o hábito alimentar dos brasileiros podemos dizer que na maior parte da nossa população essas bactérias vivem literalmente em plena guerra. 

    Em casos de constipação ou diarreia crônica, dor de cabeça, cansaço, irritabilidade e até mesmo problemas respiratórios como renite, bronquite e sinusite, é muito provável, que a causa possa estar em um desequilíbrio da flora intestinal, pois como disse anteriormente, 60% dos nossos anticorpos são produzidos ali mesmo, no nosso intestino. Portanto sempre que surge qualquer sintoma ou mesmo doença, precisamos nos perguntar e averiguar com nosso médico como anda a saúde do nosso intestino.

    Mas e agora, se o equilíbrio da minha flora intestinal vai mal, o que eu posso fazer??

    Antes de mais nada é necessário sempre passar com o seu médico e com a sua nutricionista, para averiguar cada caso, mas aí vão algumas dicas que podem ajudar: 

- Em primeiro lugar, beba bastante água, pois ela é um elemento essencial para o bom funcionamento de todo o nosso organismo;

- Coma aveia e boas fontes de fibras em geral: Proporcionam uma consistência normal as fezes, prevenindo a diarreia e a constipação intestinal (intestino preso) e ainda de quebra ajudam no controle da glicemia e colesterol;

- inclua soja na alimentação, pois é fonte de glutamina, importante para a reconstrução epitelial da mucosa intestinal;

Coma ovo e frutas cítricas como limão e laranja: na gema do ovo é encontrado o acido pantotênico (vitamina B5), que, junto com a vitamina C, encontrado nas frutas cítricas, é importante na formação do colágeno para reparação da mucosa;

- Consuma alimentos fontes de selênio como castanha-do-pará, alimentos fonte de vitamina E como os óleos vegetais, e alimentos fonte de cisteína como o alho e a cebola, pois todos estes combatem os radicais livres atuando como antioxidades, que são fundamentais para reparação da mucosa;

- Consuma alimentos PREBIÓTICOS que são mais precisamente fibras não digeríveis em qualquer etapa do processo digestivo, portanto são resistente as enzimas digestivas e que estimulam seletivamente o crescimento e a atividade das espécies bacterianas “do bem” do intestino. São exemplos desses alimentos a aveia já citada anteriormente, alho, cebola (graças aos frutooligosacarídeos) a maçã e frutas ácidas como laranja e limão (graças a pectina presente nas casacas e nas entrecascas), amêndoa, castanhas, linhaça,gergelim (graças a lignina presente nas cascas), chicória, alho, cebola, aspargos e alcachofra (graças a inulina encontrada principalmente nas raízes desses alimentos);

- Inclua também na alimentação PROBIÓTICOS, que são organismos vivos que quando ingeridos em determinado número (concentração) exercem efeitos benéficos para a saúde por sua ação no trato intestinal. Os probióticos podem ser componentes de alimentos industrializados presentes no mercado, como leites fermentados e iogurtes, alimentos fermentados de forma caseira como as coalhadas, queijos, bebidas frutais, picles e o kefir, ou ainda podem ser encontrados na forma de pó ou cápsulas (que deve ser sempre indicado pela sua nutricionista). Vale ressaltar que ainda existem os SIMBIÓTICOS que são combinações adequadas de pré e pró-bióticos. Um produto simbiótico exerce um efeito tanto prebiótico como probiótico O importante antes de consumir qualquer pró-biótico ou sinbiótico é sempre passar pela seu médico e a sua nutricionista para avaliar como está a sua flora intestinal, para intervir corretamente;

- Evitar o álcool, cafeína, alimentos industrializados, condimentados e ricos em açúcar, é fundamental pra quem quer ter uma microbiota adequada, pois estes, consumidos com frequência são agentes irritantes que causam danos para o nosso intestino;

- Por último e não menos importante, praticar atividade física é essencial para diminuir o estresse do dia-a-dia e para se ter uma boa motilidade gastrointestinal.

   Podemos concluir, que o profeta Maomé não estava tão equivocado, o nosso intestino é realmente uma porta de entrada para o nosso corpo, é por ele que quando saudável, entram os nutrientes e são perfeitamente conduzidos até as células do nosso organismo, mas é por ele também, que quando “doente” inúmeras doenças podem entrar e causar males a nossa saúde. Mantê-lo saudável é fundamental e é uma responsabilidade nossa, sendo assim, vamos cuidar direitinho do nosso segundo cérebro pra que possamos desfrutar de uma vida saudável e equilibrada. 

Dra. Angélica Zucarelli

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